sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Assessora do Deputado Rosinha engaveta pedido de liderança indígena

Há cerca de um mês o Deputado Federal Doutor Rosinha (PT-PR), recebeu em seu gabinete, em Brasília, a jornalista Sandra Terena, para falar sobre o sacrifício de crianças indígenas no Brasil. O deputado, que tem boas referências no estado, recebeu a indígena muito bem e prometeu fazer um requerimento de audiência pública para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. No entanto, não foi isso o que ocorreu.

Uma assessora do deputado engavetou o pedido de Sandra sem mesmo enviar para a comissão com a alegação de que o tema já foi debatido no ano passado e por problemas de agenda. A funcionária Cristina Leme “achou” que seria inócuo enviar o pedido, que trata de propostas para salvar a vida de nossas crianças. Ora, quem deve avaliar essa questão é a própria comissão de Direitos Humanos, não uma funcionária da Câmara. Mesmo com a agenda cheia, pela relevância social do tema, acredita-se que a audiência poderia ser encaixada ainda este ano. Enquanto isso, as nossas crianças vão ficar mais um tempinho sem assistência. Talvez o tempo de férias dos senhores deputados ou até encontrarmos um deputado que tenha coragem de encaminhar o pedido de audiência pública a comissão de Direitos Humanos.

O objetivo dessa audiência é mostrar aos parlamentares que o infanticídio, tema que até hoje foi tratado como lenda ou invenção é abordado por lideranças indígenas de várias etnias e mostra a verdade de forma incontestável. Mais ainda do que trazer a baila esse tema, agora como verdade, é o desejo dos índios de cuidar de suas crianças. Mas, para isso é necessário discutir políticas públicas. E o lugar adequado para isso é o congresso.

Absurdos como esse são todos os dias vistos na Câmara dos Deputados, assembléias legislativas e câmaras de vereadores de todo o Brasil. Mas, há uma maneira de mudar tudo isso. Em 2010 vamos novamente as urnas escolher nossos representantes. É um ótimo momento para analisar a postura de nossos parlamentares no congresso. Viva o Brasil.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Uma chance às crianças indígenas


Reportagem do Correio Braziliense sobre o filme Quebrando o Silêncio, dirigido pela Sandra Terena.

Segue a matéria na integra,
assinado pela jornalista Danielle Santos




Brasília - O olhar triste dos índios Marité e Tixumagu da etnia Ikpeng, de uma aldeia do Xingu, no Mato Grosso, denota a desilusão em ter de abandonar os costumes da comunidade para viver na cidade em busca do novo. O motivo da fuga está no colo do casal:
Autora do vídeo, Sandra Terena defende assistência especial às famílias que não aceitam mais essa crença. Foto: Carlos Moura/CB/D.A Pressos trigêmeos que nasceram este ano e que não foram aceitos pela comunidade por uma tradição cultural que acredita que filhos numa mesma gestação podem trazer azar. Para evitar o sacrifício deles, prática comum, a família teve de ser forte para seguir outro caminho. "Tenho certeza de que eles vão se orgulhar quando crescerem. Tenho orgulho de ter conseguido seguir com essa ideia e não deixá-los morrer", diz o pai. O líder indígena Tabata Kuikuro, também da comunidade xinguana, foi tão firme quanto o casal Marité e Tixumagu ao saber que sua esposa deu à luz gêmeos, hoje com dois anos. "São meus filhos, como vou deixar alguém fazer mal a eles, deixar matar igual se mata bicho?". Os dramas como o de Marité, Tixumagu, Tabata e Pautú se misturaram a tantos outros e viraram documentário intitulado Quebrando o silêncio. O material, colhido ao longo de três anos, com depoimentos de comunidades de diversas etnias, é de responsabilidade da índia Terena que resolveu pesquisar sobre o infanticídio pelas aldeias por onde andou. Mãe de um bebê de 1 ano e sete meses de nome Tenó, Sandra disse que sempre ouviu falar sobre o assunto quando pequena, mas não acreditava que ainda fosse comum em comunidades que já têm contato com os "brancos". A jovem diz não querer mudar a concepção cultural e colocar a prática do infanticídio como crime, mas alertar para a necessidade de assistência especial às famílias que não aceitam mais essa crença dentro de suas comunidades. "Constatei que muitas famílias - a maioria jovem -, que estudam e trabalham fora da aldeia, não enxergam mais suas tradições como antes, e a pressão da comunidade as obriga a se encaixar numa situação que não tem mais fundamento para elas", diz Sandra. Busca de apoio - A riqueza de detalhes contados em 80 horas de fita, três anos de captação e mais dois meses de finalização, rendeu o documentário de 29 minutos e virou meio para sensibilização e busca de apoio. Na última quarta-feira, Sandra enfrentou 22 horas de viagem até Brasília para mobilizar autoridades do governo e parlamentares. "Quero batalhar por ajuda em todos os lugares." Narradora do documentário e fundadora da ONG indígena Sirai-i, Divanet da Silva, casada com um índio há 14 anos, adotou três crianças indígenas, filhas de pais diferentes, que seriam enterradas vivas. "No início, foi complicado levar esse assunto para as famílias, mas aos poucos fui conquistando abertura."