Esse semestre finalizo minha pesquisa sobre a aldeia urbana de Curitiba. Foram dois anos de pesquisa que resultará em um videodocumentário sobre a Kakané Porã. Pedi ao maior indigenista paranaense, Edívio Battistelli, criar um conceito de aldeia urbana. Esse conceito é parte da fundamentação teórica do meu trabalho.
Nesse post, compartilho com vocês o conceito de aldeia urbana, segundo o caríssimo amigo Battistelli.
Aldeamento Urbano, na minha concepção, nada mais é doque "um agupamento de famílias que se declaram e são reconhecidas como indígenas, vivendo em um espaço comum e urbano de terras, interagindo harmoniosamente com outros povos". Diferentemente da especificidade Kakané Porã, existem agrupamentos no Paraná e em outros estados federados, no entanto, não reconhecidos ou assumidos como tais, pelos poderes públicos. As cidades históricamente foram construídas para não índios(estrangeiros). No momento em que este reconhecimento pela alteridade cultural existe, conforme preceitua a Constituição Federal, a presença indígena nas cidades - que se fará acontecer de forma crescente em todas as regiões do país - receberá um trato específico, de assessoramento coletivo às manifestações de suas vontades, no processo de inserção e inclusão social. Os Povos Indígenas representam, aqui, os únicos não inseridos e nem inclusos neste país. Sob esta ótica, Kakané Porã busca a inserção com dignidade e respeito a diversidade,num pleno reconhecimento dos poderes públicos, permitindo assim, a interação e não a integração - esta impositiva, a outra, mais voluntária. Encurralamento, em redomas, em "reservas" ou numa espécie de "zoos humanos", foi a condiçaõ até aqui imposta aos aborígenes brasileiros. Cai por terra as frequentes afirmativas de que lugar de índio é na "reserva", no mato. Para isso, precisamos, sob as visões indígenas e indigenistas,acima dos demais brasileiros, escrever novos caminhos, considerando que todos os espaços se fecharam, a partir das então "reservas", únicos locais onde poderiam viver na condição de índios aos olhos da maioria esmagadoura da sociedade nacional não índia. Resistência cultural, desejos pelo coletivo, vontades de inserções próprias, não foram motivos suficientes, até pouco tempo, para a intervenção dos poderes públicos, onde ainda o reconhecimento inexiste, quanto a presença indígena nas cidades. Procura-se postergar o reconhecimento da realidade porquanto ela gera demandas, dificuldades, há preconceitos, estigmas, para os quais os municípios brasileiros e nem os estados federados, via de regra, estão preparados.
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