terça-feira, 30 de março de 2010

Documentário quer estimular debate sobre infanticídio nas tribos indígenas

“Quebrando o Silêncio” será lançado nesta quarta-feira (31), em Brasília, e mostra que índios estão mudando de opinião

BRASÍLIA, 30/3/2010 – O documentário “Quebrando o Silêncio”, dirigido pela jornalista e documentarista Sandra Terena, será lançado nesta quarta-feira (31), no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, e mostra histórias de sobreviventes do infanticídio indígena e de famílias que saíram das aldeias para salvar a vida de seus filhos.



O infanticídio ainda é uma prática comum em muitas aldeias indígenas do Brasil. As vítimas são gêmeos, deficientes ou nascidos de relações instáveis, de acordo com a crença de cada aldeia. No entanto, a prática vem sendo cada vez mais contestada pelos próprios índios.



Sandra conversou com cerca de 350 mulheres indígenas durante a apuração para o documentário, e percebeu que a maioria delas é aberta à discussão sobre o abandono do infanticídio. "Foram três anos de pesquisa, com cerca de dez a doze povos indígenas do Alto Xingu e do Amazonas", lembra a documentarista.



Segundo ela, o objetivo do filme é promover o debate sobre o tema entre os indígenas, e não influenciar sua cultura. “Percebemos claramente que muitos são contra. Quando fui ao Xingu, no Mato Grosso, os índios da tribo local falaram que o infanticídio diminuiu e que consideram a prática bastante negativa para a própria cultura indígena. ‘A gente não é bicho’, diziam”, conta a jornalista.



São esperadas 450 pessoas durante o lançamento do filme, entre elas o representante indígena na Organização das Nações Unidas, Marcos Terena, membros de associações indígenas como a Coordenação Nacional das Mulheres Indígenas (Conami), deputados federais, representantes de Direitos Humanos de organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e estudantes universitários.



Este será o primeiro passo para a distribuição e exibição do filme entre os povos indígenas do Brasil. Neste ano, a Atini – Voz pela Vida, instituição parceira do documentário e que desde 2006 trabalha na defesa dos direitos das crianças indígenas, pretende exibir o documentário em mais de 200 aldeias do Brasil, com o intuito de fomentar a discussão dos indígenas sobre os Direitos Humanos.



“Com o documentário, ficou evidenciado que os próprios índios já entendem que essa situação deve ser superada. Nosso objetivo é que, em pouco tempo, não seja mais necessário abrigarmos famílias indígenas com crianças em situação de risco, pois serão criados mecanismos para que estas famílias possam cuidar de suas crianças na própria aldeia”, explica a coordenadora da Atini, Márcia Suzuki.



O filme rendeu à documentarista Sandra Terena – que também é de origem indígena e é presidente da ONG Aldeia Brasil – dois prêmios em 2009: o “Voluntariado Transformador” (na categoria “Reduzir a mortalidade infantil”), promovido pelo Centro de Ação Voluntária de Curitiba; e o “Prêmio Internacional Jovem da Paz” (na categoria “Comunicação”), realizado por diversas instituições, entre elas a Aliança Empreendedora e o Projeto Não-Violência.



Por seu trabalho de apoio às famílias em situação de risco e fomento do debate cultural a respeito do infanticídio indígena, a Atini receberá, na ocasião do lançamento do filme, o Prêmio Aldeia Brasil de Relevância Social.



Serviço:

Evento: Lançamento do documentário “Quebrando o Silêncio”, de Sandra Terena

Data: 31 de março (quarta-feira)

Horário: as atividades relacionadas ao lançamento estão agendadas para o dia todo. Confira a programação abaixo.

Local: Memorial dos Povos Indígenas.

Endereço: Eixo Monumental, Praça do Buriti, em frente ao Memorial JK – Brasília-DF

Mais informações: (61) 8116-1595 – falar com Rubens ou Oswaldo

3964-7622 - Atini





Programação:



Manhã

09:30 – Abertura do evento

09:40 – Depoimento de Mowaji Suruwahá, que optou por sair da aldeia para tratar a filha Iganani, diagnosticada com paralisia cerebral, em Brasília

09:50 – Fala Lucília Viana, professora com mais de 20 anos de experiência em etno-educação indígena junto ao povo Suruwahá e Parakanã .

10:00 – Fala Kakatsa Kamaiurá, secretário geral da Atini

10:10 – Fala Oswaldo Eustáquio Filho, jornalista, coordenador de comunicação da ONG Aldeia Brasil, militante da luta pela criação da aldeia Kakané Porá, em Curitiba, primeira aldeia indígena urbana do sul do Brasil e produtor de finalização do filme “Quebrando o Silêncio”

10:20 – Exibição do filme Quebrando o Silêncio

10: 55 – Abertura para plenária formada por acadêmicos para discussão sobre o filme e perguntas para a mesa

11:55 – Encerramento das atividades da manhã



Tarde:



14:30 – Abertura das atividades da tarde

14:40 – Depoimento de Anita Ticuna, mãe de gêmeos, professora da aldeia ticuna na região do baixo Amazonas e mestranda em linguística pela UnB

14:50 – Fala de Vanilda Malagutti, professora com 20 anos de experiência na educação indígena

15:00 – Fala Sandra Terena, jornalista e documentarista, presidente da ONG Aldeia Brasil e diretora do filme “Quebrando o Silêncio”

15:10 – Exibição do filme “Quebrando o Silêncio”

15:45 – Abertura para plenária formada por acadêmicos para discussão sobre o filme e perguntas para a mesa

16:45 – Encerramento das atividades da tarde



Noite

19:30 – Abertura e apresentação das autoridades presentes

19:32 – Contextualização infanticídio, realizada pelo líder indígena Kamiru Kamaiurá, com tradução de Kakatsa Kamaiurá

19:42 – Apresentação de dança do povo Kamaiurá

19:52 – Fala de Sandra Terena, sobre a produção do filme “Quebrando o Silêncio”, e entrega do Prêmio Aldeia Brasil de Relevância Social à organização Atini – Voz pela Vida

20:00 – Exibição do filme “Quebrando o Silêncio”

20:35 – Abertura para participação da plenária

21:00 – Encerramento com canto das crianças dos povos Sateré-mwe e Kamaiurá


SOBRE A ATINI – VOZ PELA VIDA – Fundada no ano de 2006, a Atini – Voz pela Vida é uma organização sem fins lucrativos, sediada em Brasília (DF), que atua na defesa do direito das crianças indígenas. É formada por líderes indígenas, antropólogos, linguistas, advogados, religiosos, políticos e educadores. Atini significa “voz” na língua suruwahá. O movimento se inspirou na luta de uma mulher indígena, Muwaji Suruwahá, que levantou sua voz com coragem a favor de sua filha Iganani. A menina tem paralisia cerebral, e por isso estava condenada à morte por envenenamento em sua própria comunidade. Muwaji desafiou a tradição de seu povo e ainda a burocracia do mundo de fora para manter sua filha viva e garantir seu tratamento médico. A missão da entidade é reduzir a mortalidade infantil nas comunidades indígenas, promovendo a conscientização em direitos humanos, fomentando o diálogo intercultural e a educação, e providenciando apoio assistencial para as crianças em situação de risco.



SOBRE A ALDEIA BRASIL – A Organização Não Governamental Aldeia Brasil é uma entidade sem fins lucrativos voltada para a promoção e o desenvolvimento da cultura indígena brasileira por meio de programas nas seguintes áreas: cultura, saúde, educação e conscientização social. A organização Aldeia Brasil atua em diversas aldeias do país, especialmente no estado do Paraná e São Paulo. O objetivo da entidade é desenvolver projetos de geração de renda, sustentabilidade e preservação do meio ambiente nas aldeias indígenas do Paraná e de São Paulo.



SOBRE O DOCUMENTÁRIO “QUEBRANDO O SILÊNCIO” – Finalizado em 2009, o documentário é resultado de anos de pesquisa em conjunto entre a ONG Atini – Voz pela Vida e a jornalista e documentarista Sandra Terena, que dirigiu o filme. O vídeo tem 34 minutos e está disponível na internet por meio do link: http://quebrandoosilencio.blog.br.



Ficha Técnica:



Título: Quebrando o Silêncio.

Ano: 2009.

Direção: Sandra Terena.

Roteiro: Sandra Terena, Oswaldo Eustáquio Filho , André Barbosa e Christina Barbosa.

Produção: André Barbosa.

Narração: Sandra Terena.

Direção de Fotografia: André Barbosa.

Edição: Sandra Terena e Christina Barbosa.

Finalização: André Barbosa.

Imagens Adicionais: Enock Freire.

Imagens da Reunião Parque Xingu: Gustavo Domingos.

Pesquisa: Edson Suzuki.

Apoio Documental: Márcia Suzuki.

Som Direto: André Barbosa e Kakatsa Kamayurá.

Tradutores: Cacique Aritana Yawalapiti (idioma “Yawalapiti”), Francisca Irving (idioma “Jarawara”), Kakatsa Kamayurá e Karatsipa Kamayurá (idioma “Kamayurá”).

Trilha Sonora Original: Marcos Vicente.



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