sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Aldeia de Concreto

Oswaldo Eustáquio Filho
Aldeia Brasil - http://www.aldeiabrasil.org/

Poucos textos sobre a aldeia urbana de Curitiba conseguiram relatar de uma maneira humanística a vida dos índios de Kakané Porã, primeira aldeia urbana do sul do país. Para o HardNews o que interessa são os números. "35 famílias de três etnias indígenas ganham aldeia em Curitiba" Essa notícia correu o país. No entanto dois jornalistas conseguiram ir além das estatísticas e conseguiram chegar mais próximos da realidade dos índios da nova aldeia de Curitiba. Um deles é o José Carlos Fernandes da Gazeta e o outro é meu amigo Rafael Urban, da Folha de Londrina. Tive a oportunidade de acompanhar o Urban nessa matéria. Para mim foi uma aula de jornalismo. Ele esteve na última noite dos índios na aldeia velha. Foi junto com os eles no onibus do Cambuí à Kakané Porã, entre outras façanhas que podem ser acompanhadas no texto.



Aldeia de Concreto
Rafael Urban - Folha de Londrina


Foi no dia 23 de dezembro de 15 anos atrás que Carlos Luiz dos Santos avisou o seu tio, o cacique caingangue Geneval, da Reserva de Mangueirinha (76 km ao norte de Pato Branco), sua terra de batismo, que estava indo morar em Curitiba. Carlos trouxe consigo uma mala com roupas. Desde então, trabalhou como carpinteiro, motorista, servente, operário, com construção civil e artesanato. Foi nessa última atividade que conheceu outros 11 índios que, como ele, vendiam a sua arte na Rua XV. Depois de três reuniões no ano de 2001, a primeira delas na Praça Osório, decidiram abandonar suas casas, onde viviam de aluguel ou em condições muito precárias. "E fomos morar na Borda do Campo, em barracas de lona. Era um terreno que achávamos que era do governo." Mas tinha outro dono, a Faculdades Integradas Espírita. Que, oito meses mais tarde, conseguiu reaver a terra. No dia quatro de maio de 2002, menos de uma semana depois, por intermédio do indigenista Edívio Battistelli, 54, chegaram a uma propriedade na Rua Comendador Franco 9.553, na divisa entre Curitiba e São José dos Pinhais. Ocuparam a área de preservação biológica, onde antes funcionava um museu. Na Reserva do Cambuí já viviam uma família caingangue e Osmar Bispo, espécie de caseiro do local. Quando a prefeitura pediu a reintegração de posse, Osmar foi desalojado. As famílias, dos povos Caingangue e Guarani, porém, resistiram. Chegaram outros, alcançando, segundo um levantamento da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), o número de 100 pessoas, de um total de 24 famílias. Viveram lá por seis anos e sete meses sob condições precárias. Depois de uma série de reuniões, conversas de bastidores e participações de diferentes órgãos e indivíduos, a história teve outro rumo. Na terça-feira, dia 11 de dezembro, inaugurava Kakané Porã, a nova casa. E, desta vez, oficial. O terreno de 44,2 mil metros quadrados fica no bairro Campo do Santana, no Sul de Curitiba, próximo da BR-116 e a 20 quilômetros do Centro. O espaço foi cedido pela Prefeitura a título de comodato, espécie de contrato de empréstimo assinado no dia 19 de abril de 2007, com duração de cinco anos e renovável por outros cinco. Com uma verba de R$ 705 mil, na área equivalente a pouco mais de cinco campos de futebol, foram construídas pela Cohab 35 casas de 37 metros quadros; dois quartos, cozinha, banheiro e uma varanda. A aldeia de concreto, o primeiro agrupamento indígena urbano formalmente estabelecido no Sul, é a terceira do tipo no País. Há uma em Campo Grande (MT) e outra em São Paulo capital. Manaus (AM) também tem algo parecido, ainda que, no entendimento do já citado indigenista Battistelli, não esteja sistematizado. Dezoito das família que agora moram na nova aldeia vieram da área de ocupação. O novo nome explica um pouco de seu aspecto multi-étnico. "Kakané", vem do Caingangue, povo de 27 das famílias, e significa "fruto". "Porã" é do Guarani, etnia com quatro famílias na aldeia, e quer dizer "bom". São os bons frutos, os mais idosos, boa parte vinda de Mangueirinha. As outras quatro casas receberam famílias Xetá, povo que tem menos de 100 remanescentes. E uma língua que, diferente do caingangue e guarani, jamais foi sistematizada graficamente. Dezoito Xetá vão viver em Kakané Porã. Um deles, Tiquén Xetá, é dos seis últimos de origem tradicional primitiva. Em caingangue se conta até três. O que vem depois, é infinito. Vida longa à Kakané Porã. Ni, to, tu

2 comentários:

Neuza Castilho disse...

OI, MEU GRUPO E EU, DO 7° PERÍODO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA FACULDAE FACEAR ESTAMOS PENSANDO EM FAZER NOSSO TCC SOBRE ESTA ALDEIA, A KAKANÉ PORÃ. ACHEI MTO INTERESSANTE SEU BLOG,TEM MUITA INFORMAÇÃO IMPORTANTE! GOSTARIA QUE ME AJUDASSE COM ALGUMAS INFORMAÇÕES, SE POSSÍVEL.
DESDE JÁ AGRADEÇO A SUA ATENÇÃO E PARABENIZO PELO EXCELENTE TRABALHO QUE FAZ!!!

MEU E-MAIL É neuza.francisco.castilho@hotmail.com

AGUARDO UMA RESPOSTA.
OBRIGADA

Henrique Cavalcanti Serejo - Arquiteto e Urbanista disse...

Muito interessante o texto, porém uma observação: Campo Grande é a capital do MS ( Mato Grosso do Sul) e não MT(Mato Grosso).

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